O perdão que não tive,
Quando mascarei a minha vida,
Foi do ar que não consigo respirar...

Como resisto à tentação,
Que em jeito de provocação,
Me atrai ao que nego,
Insensível, cego...

O silêncio que mantenho
Nos dias, soturnos, descontentes,
São imagens de outrora,
Da languidez forçosa…

A não transcendência
De dor, neblina sentimental
Onde te procuro nos reflexos,
Quando me tento ver a mim…

As horas da minha segregação
Em que escarneço do eu,
São todos os meus dias.
Sem sonhos, se os tive…

Onde está a calma que não tenho
A roupa que dispo, e o coração
Que não sente…

Onde estou eu se não estou aqui.
Para onde fui sem avisar,
Não me sinto…

Quando voltarás a ser vida,
Cruel ou bem vivida,
De qualquer índole…

E se porventura eu desistir,
Se assistires ao meu ocaso,
Não digas nada, deixa-me estar….

Remexer no baú
Onde encerrei o passado,
Arrepia-me o sentimento…

Se fugir nada traz,
Procuro espaço de pensamento
Ignorante, no presente conteúdo.

Volto a fechar o baú,
O arrepio já passou,
Mas tremo ao pensar nele…

É-me difícil explicar,
O que vai no fundo do olhar,
É um buraco na calçada,
Aquela que faço às cegas...

Crise de ansiedade
Mentira, fraqueza, verdade
Credo de boca...

Sofro tanto assim
Curvado, no fim
Dos dias apressados...

A culpa que sinto
Quando me falas ao ouvido
É de remorso fatigante…

Cores escuras, relento
Choro que soa a sentimento
Vontade do passado.

E agora que me encontro
Sempre aqui, neste ponto
Vou deixando a vida passar
Quieto, no sossego aparente…

Acima das nuvens
Secreto, o mundo...
Silêncio de igreja.

Cantigas graves de voz,
Orgulho no futuro, de nós
Onde estamos, disfarçados...

Se aguento esta vida
Pesada, mente exaurida,
Complexo da simpatia que não vejo.

Percebo a ira
Que motiva a reacção
Esqueleto do corpo, canção.

Detesto o caminho
Onde estou, mais uma vez sozinho
Ao sabor da maré, dos outros...